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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO ESCOLAR

REFLEXÕES SOBRE O CURRÍCULO ESCOLAR

O currículo escolar deve ser flexível e atender às necessidades da sociedade. Na prática, muitas vezes é uma reprodução “mais do mesmo”.





Vários professores devem se perguntar: “Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo?”, ou “Por que esses conhecimentos, e não aqueles?”, “Qual é o tipo de ser humano desejável para um determinado tipo de sociedade?”, “Qual é a função da escola, das disciplinas e dos conteúdos para a formação desse cidadão?”.

Currículo

                  Muitas perguntas vêm à tona quando se discute “o currículo”. As definições do que devem conter em um currículo estão expressas em diversos artigos da Lei 9.394/1996. Essa lei já sofreu diversas alterações e muitas propostas andam pelo Congresso propondo emendas.

                Na realidade, o currículo deve oferecer condições básicas para que o aluno entre no sistema escolar e saia conforme as ansiedades e angústias da sociedade. Tais demandas variam de tempos em tempos. Novas necessidades vão surgindo e velhas necessidades vão deixando o espaço escolar.

               O currículo nada mais é do que um caminho que será submetido ao aluno para que o mesmo possa formar-se conforme as expectativas do sistema (espaço-tempo) em que está inserido. Tal concepção vai depender do grupo que se encontra no poder e sua relação com a sociedade. De tempos em tempos tais concepções mudam, como já dito. Hora há necessidade de um currículo tradicional, hora progressista, hora técnico, hora mais humanista e por assim vai. Em cada espaço de discussão sobre o currículo os diferentes segmentos da sociedade “brigam pelo seu espaço”. O choque de interesses sobre as determinações do currículo é um campo de batalha minado e explosivo. Althusser estabelece a conexão entre a ideologia e a educação. O currículo é entendido como um “aparelho de controle do Estado” para que se “formem” de acordo com as instruções de um determinado governo.

           Na estrutura nacional, o Plano Nacional de Educação prevê o estabelecimento de um currículo comum (básico) com conhecimentos mínimos que deveriam ser apreendidos por todos. Tal discussão também é polêmica, ainda mais quando se tem clareza sobre o conteúdo acima exposto. Nesse campo há duas correntes: aquela que prega o currículo mínimo, estabelecendo o que deve ser ensinado em todas as séries da educação básica e; os que acreditam que o currículo deveria ser construído localmente, atendendo às peculiaridades locais. Diante dessa discussão, acresce-se os exames externos (PISA, Prova Brasil e ENEM, por exemplo) que se baseiam em suas diferentes “Matrizes de Referência”.

           Quanto às Matrizes de Referência, essa discussão ganha escopo nos debates sobre o currículo, a partir do momento em que as Matrizes ganham maior conotação e importância sobre a prática pedagógica do que o currículo em si. Ou seja, na prática, trabalha-se em detrimento de atingir tal índice ou indicador, ao invés de se trabalhar para fazer com que o aluno atinja as competências e habilidades, o conjunto de valores e atitudes e as outras indicações que constam nos currículos.

            Sem querer se prolongar. Minha intenção é apenas trazer a discussão sobre esse assunto, e não provar academicamente essa ou aquela teoria, deixo como sugestão três vídeos para análise. O primeiro trata-se do currículo dentro do Projeto Político Pedagógico (algo que também precisa ser muito bem discutido, uma vez que muitos o encaram somente como burocracia), o segundo é um vídeo do programa Extra-Classe, sobre a diversidade e o currículo e, por fim o Programa Nota Dez, do Canal Futura, em episódio sobre a valorização da diversidade étnica e racial na educação infantil.

Como é possível perceber, discutir o currículo vai muito alem de falar das disciplinas e conteúdos, a complexidade dessa discussão precisa ser levada à linha de frente, ou seja, aos professores e estes precisam ser ouvidos pelo poder público.


Vejam os vídeos abaixo:

O projeto político-pedagógico e a gestão democrática - Vasco Moretto




Programa Extra-classe - Currículo e Diversidade





Programa Nota Dez - Diversidade na Educação


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

DE ESCOLA REPRODUTORA A ESCOLA TRANSFORMADORA

DE ESCOLA REPRODUTORA A ESCOLA TRANSFORMADORA

Apenas deter o certificado de pedagogia não garante o conhecimento 





A criação da escola no Brasil está ligada estritamente ao desembarque dos jesuítas para “catequizar e domesticar” os índios. Em seguida, o sistema de ensino implantado tinha como objetivo atender aos anseios da nobreza instalada na colônia para que seus filhos fossem corretamente instruídos para voltarem ao velho continente e concluir o ensino superior. Desta forma, por muito tempo nossa escola pública também foi elitista e considerada como uma arma importante para adentrar no mundo universitário. Bom, de lá para cá muita coisa mudou e a universalização do ensino tão pregada pelos escolanovistas, está se tornando uma realidade, apesar dos tropeços e enganos cometidos, temos avançado nesse ideal de escola para todos.

Mas, porque não temos alcançado os louros da vitória tão desejados? O que estaria faltando para alçarmos voos mais altos em direção ao topo da lista das avaliações externas como, por exemplo, o PISA?  Avançamos timidamente e às vezes recuamos nos índices e quase que invariavelmente o debate recai sobre os professores. Será que a culpa é só e tão somente dos professores? Que escola nós temos, ou seja, que tipo de escola nós temos? Quais os objetivos dessa escola? Bem, a resposta, acreditamo-nos, é que a nossa escola calcada em valores elitistas e/ou tecnicistas não mudou em quase nada do que era, ou melhor, ela é ainda carrega a estrutura de uma escola tecnicista com ranços elitistas. 
O que é pedagogia nova

A estrutura curricular verticalizada baseada na escola reprodutora de conteúdos inadequadamente agrupados, sem transversalidade e sem interdisciplinaridade está mais presente e vivo do que durante os anos 1960 e 1970. As disciplinas são desligadas e desconexas da realidade, recheadas de conteúdos estanques, nada (ou muito pouco, para não generalizar) aplicáveis ao nosso mundo. Então qual a diferença entre a tradicional e a atual?

O século XXI iniciou-se com mudanças bruscas nos paradigmas sociais, estamos diante de uma nova realidade, novos interesses, novos objetivos. O lado negativo é que ainda estruturamos a escola com base em critérios da segunda metade do século XX (que é uma caricatura da estrutura europeia do século XIX). Temos uma escola “para todos” com valores elitistas. Agregado a isso se soma o Estado lento e burocrático que não sabe se assume uma postura neoliberal ou de bem-estar social. Um Estado que funciona no papel, mas que não se aplica à realidade, ou seja, temos um Estado de “faz de conta” que proporciona uma educação “faz de conta”.

 E porque chegamos a esse ponto? Primeiro por que não produzimos nenhum sistema educacional estritamente nacional voltado às nossas realidades. Segundo, a ingerência de partidos políticos na educação tem sido uma constante, haja vista que a cada eleição, as mudanças de secretários, de ministros e agregados políticos resulta em uma reformulação do que estava sendo feito, partindo do zero. Os debates sobre a educação têm sempre o mesmo discurso e a mesma receita. Na prática, o resultado é sempre o mesmo: A má qualidade da educação. 

Até agora ninguém, de qualquer partido político, teve a sensatez de dizer que educação deveria ser apartidária, traçada em longo prazo, mas com critérios objetivos e bem definidos, visto tratar-se de um bem maior do que as mesquinhas políticas partidárias. Em terceiro lugar, podemos dizer que gostamos de importar “modismos pedagógicos” e modelos do hemisfério norte. Dentre os modelos importados, só não importamos orientais até agora por que, a bem da verdade, veem mostrando bons resultados, mas requerem uma mudança de postura social e, principalmente, política (sobretudo no campo da ética).

Nessa imensa colcha de retalhos que é o nosso sistema educacional, podemos apontar os temas transversais que, na Espanha, tem apresentado bons resultados e poderiam ser melhores trabalhados por aqui. Porém, no Brasil, não passa de um empilhado de temas e ideias que quase não estão presentes em livros didáticos ou em estruturas curriculares elaborados pelos sistemas de ensino.

O trabalho interdisciplinar, na prática, fica a cargo do professor que se aventura em desenvolver projetos, diga-se de passagem, à parte do menu acadêmico. Coordenadores pedagógicos ficam torcendo para que apareça um grupo de professores dispostos a introduzir os temas transversais e ligar suas disciplinas num âmbito interdisciplinar e com isso dar sentido às suas aulas. As universidades, por sua vez, limitam-se ao conteúdo curricular ensinado às várias gerações. Não há mobilidade curricular. Professores são engessados dentro de uma “caverna”. Esses profissionais são jogados no mercado profissional e levam consigo a sua “caverna”. Repassam aos seus alunos as mesmas sombras que um dia aprenderam a acreditar. 

Kant em sua pedagogia de valores morais, assim como outros, como, por exemplo, Paulo Freire e Rubem Alves, nos convidam a olhar com outros olhos, a termos um olhar quase metafísico em que o ser é muito mais importante. O ser humano está em constante evolução e, portanto o ensino deveria acompanhar essa evolução. O que se vê nas escolas é a transmissão de ideias arcaicas a respeito das ciências. Uma ciência imutável? As teorias científicas se sucedem ao longo do tempo e, em tom jocoso podemos dizer que nada é absoluto e tudo é relativo, e essas mudanças profundas ou não, e que podem ser de natureza epistemológicas, refletem diretamente na educação.

Diante desses fatos porque não se fazer uma integração de saberes? O ensino das disciplinas curriculares está enclausurado em gaiolas como pássaros que já não alçam voo. Precisamos de uma força transformadora que faça com que o dia a dia esteja presente no ensino dessas matérias curriculares. Evidentemente, não podemos relegar a desprezo o ensino tradicional, não se trata de abandonar um e acolher o outro, mas de integração, união. 

Nada melhor para transformar do que miscigenação dos conhecimentos, dos saberes. Os temas transversais e a interdisciplinaridade tem o papel importante de ser o agente aglutinante que irá dar vida nova ao conteúdo curricular bem como despertar no aluno a necessidade de se tornar um ser humano melhor. Um ensino integrado pode despertar no horizonte, mas é preciso ter cautela, pois uma simples canetada juntando disciplinas e mudando a estrutura curricular de uma hora para outra (como já desponta o MEC), pode piorar o que já está ruim. 

Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
omacam@gmail.com

Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
Consultor e assessor pedagógico
ivanclaudioguedes@gmail.com

CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. De escola reprodutora a escola transformadora. Gazeta Valeparaibana [online], São José dos Campos, 01 ago. 2014. E Agora José? - Opinião. Disponível em http://www.gazetavaleparaibana.com/081.pdf  Acesso em 02 ago. 2014.


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