domingo, 20 de julho de 2014

PARA QUÊ SERVE A ESCOLA?

PARA QUÊ SERVE A ESCOLA?

A função da escola é discutida por muitos, mas compreendida por poucos.



A princípio a resposta à pergunta acima é fácil de responder. Alguns dirão que é para preparar para a vida. Outros dirão que é para ensinar conteúdos. Outros dirão que é para educar. Muitas respostas prontas vêm à cabeça e todas elas parecem convergir. A própria legislação caminha nesse sentido, uma vez que a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 dizem que a função da escola é preparar para o “pleno exercício da cidadania e para a qualificação para o mercado de trabalho”. Entretanto, de qual tipo de cidadania estamos falando? O que é cidadania? Qual tipo de mercado de trabalho?






            Preparar um aluno para a cidadania é complexo e contraditório se nos perguntarmos “o que é cidadania?”. Uma cidadania limitada ao voto bianual? Uma cidadania em que não se pode questionar nossos representantes porque, mais cedo ou mais tarde, acabará preso? Uma cidadania forjada na “representatividade” do voto em que escolhemos entre os escolhidos pelos seus pares? Uma democracia baseada em um agrupamento de leis que não servem para o povo? Uma democracia contaminada pelo preconceito étnico, econômico, de gênero e intelectual? Que tipo de democracia estamos falando?

Uma escola unida por todos os povos


            E o que é mercado de trabalho? Aquele em que “todos têm oportunidades”? Oportunidades para quê? Para trabalhar em uma loja ou para ser banqueiro? Para lavar carros ou para ser dono de montadora de veículos?

            Para aqueles que trabalham com a escolarização existem normas, regras, currículos, programas e projetos. Entretanto, o professor cai em um constante senso comum ao não se perguntar qual é o real objetivo do seu trabalho. Todo currículo traz uma ideologia, toda disciplina é repleta de ideologia, independentemente de qual tipo de ideologia estamos abordando, todo documento tem. Aquele que recebe e trabalha com esses documentos também carrega seu conjunto de valores morais e éticos, também carrega sua ideologia, suas angústias e suas intenções. Seus preconceitos e suas ideias.

            Na ponta deste processo há o aluno.  O aluno, assim como o professor, também carrega seu conjunto de valores, também possui suas aspirações, seus preconceitos, suas ideias e seus valores. Ao entrar em contato com a escola, tudo aquilo que ele acredita é colocado em prova. O currículo o coloca em uma forma para que ele saia “formado”, dentro dos padrões estabelecidos, ou seja, dentro do “script social” (como diz P. Ghiraldelli Jr.).

            Mas, voltando ao assunto, para quê serve a escola? Que tipo de sociedade querem que se forme? Florestam Fernandes afirma que “feito a revolução nas escolas, o povo a fará nas ruas”. Frase difícil de compreender, uma vez que todos que estão dentro da escola fazem parte do “povo”. O conflito de interesses dentro do ambiente escolar é tão grande que é quase impossível mensurá-lo, e não dá para fazê-lo por decreto, pois existe o fator “humano”, que pensa, que atua e que questiona o que está escrito. Mesmo aquele mais bem intencionado quando elabora uma política pública, um currículo ou uma legislação não consegue sanar todas as angústias da sociedade, sendo assim, sempre haverá essa discussão sobre a função da escola.


            Cada núcleo da sociedade tem uma aspiração: os humanistas querem uma escola voltada à cidadania, os empresários querem melhores funcionários, os marxistas querem a revolução, os cientistas querem mais ciência na escola, alguns querem o controle social, outros querem a liberdade social. Falta um modelo, falta um norte, ou seja, antes de se pensar em um modelo de escola, falta ser construída uma sociedade. 

Ivan Claudio Guedes, 34. Geógrafo e Pedagogo.

5 comentários:

  1. Somente quem tem um olhar reflexivo e analisa constantemente seu trabalho, seus alunos, o comportamento e crescimento social do aluno não por suas competências em conteúdos, mas sim paulatinamente, faz um levantamento cotidiano de seu progresso enquanto ser humano, indivíduo e cidadão; poderá tentar entender e verificar a complexidade que envolve o trinômio: escola, aluno, cidadania.

    Conforme suas acertadas palavras muitos já tem uma resposta pronta internalizada a partir de jargões repetitivos de grandes representantes políticos, seus princípios e manejo para produzir um discurso que possa dar conta de favorecer lá na frente seus desejos de manipulação do saber.

    Essa questão é digna de muitas reflexões e estudos a partir dos sinais de regressão que observamos atualmente ao falarmos dos jovens profissionais produzidos pela escola atual em todos os seguimentos do conhecimento no valor que é dado aos professores, e aos alunos que estão sendo praticamente jogados literalmente dentro da escola, sem condições alguma dela sair e após ela serem capazes de sobreviver.

    Outrora tínhamos orgulho de nossa escola, aí daquele que falasse mal de nossa escola ou de nossos mestres.... E Hoje, o que temos???? Se quer conseguimos uma contextualização entre o Currículo, o cotidiano escolar, os acontecimentos políticos, os fatores ambientais, os valores e ideais da cidadania, a democracia, a liberdade de expressão, o amor ao próximo, enfim muito se perdeu da escola que eu fui ensinada para á atual. Onde nos perdemos? Por quê? Como não tornar a escola um espaço desnecessário para os alunos advindos das semente plantadas na Progressão Continuada e seus efeitos? São questões que precisaríamos nos aprofundar em longos estudos e debates para tentar encontrar uma escola que seja adequada a geração pós revolução da tecnologia e das informações midiatizadas.



    Ao lermos Paulo Freire, em "A Escola é,,,",vimos o quanto a escola se perdeu diante do universo de possibilidades e competências que lhe foram impostas ao longo dos anos e das grandes transformações sociais, políticas e econômicas.

    Encontrar o caminho para dar sentido a escola, seus valores, suas funções para poder dar conta de todas as competências e habilidades que devemos construir com nossos alunos de forma a lapidá-los para agir no mundo e transformá-lo é uma tarefa que atualmente merece muitos desafios e pesquisas constantes para que venhamos compreender qual a direção a seguir para não sermos obsoletes na formação desses jovens que certamente serão o nosso futuro, por mais que alguns digam que não, essa é a realidade, estaremos colhendo os frutos do que plantamos.

    Portanto, considero sua postagem muito apropriada para uma "possível tese" de estudos aprofundados sobre o tema em questão, ou Plenárias de discussões envolvendo o centro desse complexo objeto de estudo "os alunos", professores, pais, comunidade, políticos, mestres, doutores, entre outros que pudessem colaborar para juntos encontrarmos uma saída, haja vista que nossos alunos estão anos luz á frente da escola enquanto local físico e mantendo-se nos moldes dos tradicionais colégios dos tempos dos jesuítas, mudando-se apenas algumas tendências metodológicas e formas de construção de seus prédios, mas em suma ela atualmente não agrega mais a ideia ou os atributos mencionados na LDB, ECA, e tantas outras leis e resoluções, que não passam de belos textos no papel, mas na prática não condiz com as nossas salas de aula e o produto lançado no mercado de trabalho e na sociedade como um todo.
    Para concluir espero que mais colegas reflitam sobre essa grande polêmica e que juntos encontremos uma saída, pois do contrário continuaremos escravos de uma política educacional ultrapassada e ineficaz.

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  2. Para complementar minha postagem em relação ao finalzinho do meu texto, quero explicar melhor minha fala.... "haja vista que nossos alunos estão anos luz á frente da escola enquanto local físico e mantendo-se nos moldes dos tradicionais colégios dos tempos dos jesuítas",

    Na verdade fiz referência à questão do aluno ter acesso às informações que lhe são importantes no momento em que delas necessita para atender as suas necessidades de aprendizagem, enquanto a escola oferece um currículo que nem sempre contêm informações que são interessantes e contemplam as indagações dos alunos, instaurando-se assim uma grande falta de atenção, concentração e sintonia com as aulas apresentadas pelos professores.

    Outro adendo em minha postagem (que devido a ausência do Word em meu PC, não pude revisá-lo, perdoe-me por essa falha), quando mencionei escola ......"dos tempos dos jesuítas" foi uma forma para expressar-me o quanto a nossa escola está inadequada e atrasada em relação aos ensejos de nossos alunos, não intencionei fazer crítica ao modelo tradicional de escola, mas sim uma forma de me expressar que os moldes da escola do tempo dos jesuítas tinham um propósito fim, e a escola de hoje, também tem um propósito fim, no entanto há uma grande diferença entre o público alvo daquela época para o atual, onde os alunos já chegam á escola com uma imensa bagagem construída fora da escola, e ademais bem sabemos que o Currículo que nos é imposto para os fins adequados " à elite dominante" nem sempre é recebido e aceito por muitos de nossos alunos que possuem uma visão crítica e social do que vivenciam fora da escola, e por mais que tentemos "camuflar" o porquê o aluno tem que aprender determinado conteúdo, ficamos desacreditados, por não coincidir com nossos próprios valores e ideais.

    Sendo assim o fator conflitante seria o que a escola deveria fazer com todos esses conhecimentos já aprendidos, inclusive eu não sei se seria um bom começo....selecionar as competências e habilidades trazidas do currículo (de cada criança/ aluno) anterior à escola, e partir daí selecionar essas competências e habilidades construindo currículo diferenciado e um currículo comum a todos, não sei se dá para entender o que eu quero expor, mas seria mais ou menos o que fazemos quando iniciamos com a avaliação diagnóstica, que obtemos o diagnóstico, mas não conseguimos dar o remédio adequado para cada paciente, pois ao trabalharmos com diferentes desencontros de in formações, acabamos por excluir muitos ou quase a grande maioria.

    Um abraço e espero ter contribuído,
    Zilda

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    1. Zilda, sua postagem me fez refletir sobre vários pontos que precisam ser debatidos. Sua argumentação apresentou boa parte da angústia que, nós professores, sofremos e lutamos contra todos os dias. A questão da sistematização de um currículo, de uma condição predial e das orientações curriculares não podem ser tomadas a partir de um gabinete, e muito menos dentro dos interesses desse ou daquele partido político.
      Entretanto, também ponho em dúvida a real contribuição de uma participação social, uma vez que não vivemos em um sistema democrático e muito menos ainda entendemos o que é isso.
      Vamos melhorar esse debate. Agradeço a sua interação.

      Um forte abraço
      Ivan

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  3. Às indagações do Prof. Guedes, todas incisivas, nos remetem a algumas reflexões:
    -Qual a sociedade que queremos? Qual modelo de sociedade preenche nossos anseios? Existem um padrão único, perfeito de sociedade?
    Com certeza, eu, desejo uma sociedade pluralista, heterodoxa, que abriga, como em um grande guarda-chuva, os anseios legítimos de seus cidadãos. Uma sociedade construída sobre os pilares tradicionais da moralidade (aqui se abre uma grande discussão), do respeito às diferenças e do direito de expressão, pautada no respeito às opiniões de outrem, tudo basilado num acordo referendado por discussões exaustivas à moda de uma ágora (parte essencial da constituição dos primeiros estados gregos).
    Estas discussões “ágorianas” só podem conduzir à construção de uma sociedade, que não seja a minha exposta, mas a de todos, se a sociedade responder a questão: PARA QUE SERVE A ESCOLA?
    Resposta “simples”!
    -A escola prepara o ser humano para se revestir de cidadania, com capacidade para reflexão crítica e cooperar, com responsabilidade, na construção da sua sociedade e, também, para o exercício profissional.
    Caímos, então, no maior de todos os obstáculos apontado pelo Florestam Fernandes: “feito a revolução nas escolas, o povo a fará nas ruas”. Consciente que um povo INSTRUÍDO, PENSANTE E ATUANTE, não se submete a politicalha, os políticos (TODOS), à falta de ESTADISTAS, procuram por meios e modos desmontar quaisquer modelos de escola que permita ou favoreça o desenvolvimento do cidadão crítico, pensante, livre e atuante na conformação da sociedade dinâmica, moderna e que se atualiza perenemente.
    Abração querido amigo e professor, Paulo Roberto

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    1. Prof. Paulo, primeiramente obrigado pelo comentário no texto.
      Imagino que estamos engatinhando na possível definição do que entendemos por "democracia". Falta-nos estudos filosóficos e políticos sobre esse tema. Falta-nos o debate popular para tentar aguçar esse debate.
      Ainda que o seu modelo proposto possa ser coerente e pautado no seu conjunto de valores, quando posto à prova, poderá ser altamente questionado dentro dos padrões de interesses de outros grupos sociais.
      Quanto a escola, o que você escreveu também pode ser questionado. É só perguntar para aqueles que entendem que a escola visa a preparação para o "mundo do trabalho", ainda que não tenhamos muito claro de qual tipo de trabalho estamos falando.
      Obviamente que não pretendo expor ou impor um modelo de sociedade ou escola, a minha intenção aqui é justamente provocar o debate sobre esse tema e botar à reflexão a partir de diferentes opiniões.
      Pelo que vi no seu comentário e nos da Profa. Zilda, devo ter atingido tal objetivo.
      Agradeço grandemente a contribuição ao debate.
      Ivan

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